Este post é uma colaboração com todos que o leram, possível vir uma parte 2, mas não sei quando nem se terá.
Arte é uma ideia difícil de se conceituar, mas uma fala me chamou muito a atenção: “arte é expressão”. Essa frase, para mim, é extremamente simplória. Vou explicar o meu ponto. Para que fique claro o que estou tentando dizer, é necessário construir uma linha de pensamento. Usarei a seguinte pergunta norteadora para isso: “Afinal, o que é arte?”. Arte nunca foi ou será uma coisa só. O que posso afirmar logo de cara é que ela está presente na história humana há um bom tempo. Definir a arte como expressão, nesse sentido, é limitante e me soa como uma fala de falta de aparato cultural, pois a base teórica que conceitua a arte como expressão a coloca como a expressão do outro, a forma de um artista comunicar um sentimento vivido, a fim de provocar o mesmo sentimento na pessoa ou de se relacionar com a obra. Ou seja, limita a arte ao espectador sentir uma emoção ou identificação verossímil à do artista. Como é possível perceber, isso limita muito a definição da arte, deixando-a dotada de pessoalidade. Arte não é uma única coisa, e é partindo dessa frase, que deixa tudo amplo, que continuarei a construir meu raciocínio.
Desse modo, para questionar e posicionar o ponto de que a arte não se limita ao termo “expressão” e é mais do que uma coisa, trago um simples exemplo: as pinturas rupestres. Os historiadores, há anos, criaram possíveis explicações sobre a finalidade daquelas pinturas. Só isso já derruba a fala “arte é expressão”. Se a arte não tivesse fins sociais e culturais, ninguém estaria tentando entender a finalidade de pinturas tão antigas. Mas uma coisa eu afirmo: entendê-las traria menos respostas e muitos questionamentos para os pesquisadores. Dessa forma, vamos para a primeira definição: arte é matéria, é registro, é materialidade.
O que é arte não é algo fácil de se definir em uma coisa só. A própria estética, uma área da filosofia, tenta precisar o que é a arte, o belo, o sensível, o que é o artista e seu papel. Teremos Kant, Hegel, Nietzsche, entre outros, que falarão sobre a arte em suas respectivas linhas de pensamento. Aqui podemos ver que arte é um campo de estudo.
Ainda na filosofia e no estudo do sensível, teremos também quem vê o artista como um imitador, um replicador, que deve ser expelido da sociedade ideal. Esse pensador em questão é uma das bases do pensamento moderno: Platão. Ele viveu milhares de anos antes de mim, mas tenho certeza de que ele reafirmaria seus pensamentos ao se deparar com um evento de anime, com fanarts por todo lado, pôsteres, cosplayers (talvez, se eu pudesse, o reviveria para vê-lo tendo espasmos e agonizando, apesar de ser uma base, odeio ele).
Saindo de um filósofo antigo, vamos para ilustradores, especificamente aqueles que comercializam sua arte em eventos. Aqui, retiro novamente a arte do campo da simples expressividade. Uma pessoa que faz inúmeros adesivos de fanart de um programa X não vai tratar a arte como fim na expressão, mas sim como sua fonte de conseguir dinheiro para subsistir. E quem possivelmente fez a produção X a vê como sua forma de obter uma renda: arte é trabalho. Talvez essa minha afirmação seja contrária às ideias de Marx, mas, assim, não me lembro agora e não estou ligando também.
Impossível falar de arte e renda sem comentar sobre Romero Britto. Ele leva a obra de arte e sua reprodutibilidade técnica ao extremo. Suas obras são acessíveis tanto do ponto de vista técnico quanto mercadológico. Acredito que Romero Britto não esteja tão preocupado com a expressão, mas sim com o dinheiro: arte é mercadoria.
De um lado, temos Romero Britto; do outro, Salvador Dalí, que possui um certo respeito dentro da academia, sendo admirado e reconhecido. Ele comercializou sua obra ao máximo também, se não me engano, fez um museu em vida, colaborou com designers de moda. Era status andar com ele, assim como ter uma obra dele era ainda mais status, mostrando o poder aquisitivo. Ter obras de artistas renomados em casa é ter dinheiro; logo, arte representa luxo e status.
Acredito que o ponto que mais me pega em colocar a arte como expressão é o peso de uma obra dentro de um sentimento individual. Não estou dizendo que a arte não expressa nada, mas que ela está além da expressão de um indivíduo e além das poucas definições que apresentei. Talvez meu pensamento esteja muito mais enraizado na crítica que Mena Barreto (publicitário da área de criação) faz ao colocar uma obra criativa na mão da inspiração, quando é algo muito além disso. Mas não vou me aprofundar no ponto de a arte estar muito no conceito e não na qualidade técnica ou na criação em si. Talvez outro dia.
Vou finalizar este texto de forma genérica: Arte, Cultura e Sociedade são indissociáveis ao longo da história humana. Não aceitar esse fato é esconder-se nas sombras. Arte é uma palavra usada para definir certas produções culturais, mas nunca será uma única coisa.